Dá ponte pra cá, antes de tudo é uma Escola.
Por Junior Bezerra, escritor e professor, morador do Bairro Cabuçu, Guarulhos, SP, apresentador do podcast "A filosofia por trás da rima"
“Não se pode pensar em nenhum homem que não seja filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio do homem como tal.” Gramsci.
O rap é filosofia? O que é filosofia? O rap é arte? Mas o que é arte? Já era, estamos filosofando. Filosofar é ver o que há de “estranho” no mundo, daí perguntamos: por quê? Essas duas palavras são a chave para perceber o “mundo invertido”. A partir dessa pergunta estamos refletindo criticamente sobre a realidade na qual estamos inseridos. Portanto a filosofia é o que pensa nós e o mundo que nos rodeia.
Então o Rap é filosofia? Sim. O Rap, de um modo bem filosófico, põe em
dúvida o status quo, pois assim como o faz filósofo, o rapper também busca
a verdade e a liberdade.
O rap é uma faca afiada que corta o orgulho das instituições
repressoras. O rapper é aquele que age através da rima numa situação-limite: A
ameaça de morte, a perda de um companheiro ou companheira, o racismo, a
ausência de liberdade na periferia, as relações econômicas que na soma dos
lucros excluem a quebrada. Nesse sentido,
o rapper deve ser um radical, assim como o filósofo também. E ser radical é
maravilhoso, pois só quem é radical chega na raiz do problema.
O rap é Arte? Sim. E, assim como a filosofia, a Arte propõe questões,
mas nunca dá as respostas prontas, o papel da arte é propor uma reflexão sobre
o cotidiano, sobre a vida. Nesse sentido, com toda certeza, o Rap é uma obra de
arte.
Porém, a Arte não tem compromisso algum com as relações sociais, mas aí
que está a malandragem do artista: sendo autônomo perante essas relações, o
artista protesta contra elas e as transcende rompendo assim com a consciência
dominante, revolucionando toda a experiência humana.
Mas o que é uma Arte revolucionária? Aquela que apresenta uma mudança radical
no estilo e na técnica. Somente as vanguardas podem operar essa mudança e
sem dúvida os rappers foram os estandartes dessa revolução artística nos anos
80 e 90 no século XX.
Os rappers brasileiros desse período foram revolucionários porque denunciaram a ausência de liberdade do povo da periferia; não de fora pra dentro, mas de dentro pra fora. O DJ e o MC romperam com a realidade mistificada, fetichizada e apontaram para um horizonte, o horizonte da transformação e da libertação. Esse é o papel da verdadeira arte: recriar a realidade, apresentar outro mundo possível além da realidade imediata e frustrante, pois “o caminho da felicidade ainda existe, é uma trilha estreita em meio a selva triste.”
Em breve, vamos filosofar com o filme "O Rap Da Vila Rio", documentário feito numa região ao lado do Bairro do Cabuçu, salve zona norte!
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