Grupo Autoestima

    Nas quebradas do Vila Rio, periferia de Guarulhos, SP, por volta do ano de 2004, Wesley Perez, Mano H e Lyon formam o Grupo "Facção Ideológica C4". Compondo e gravando na cozinha da mãe do Wesley, eles lançaram dois CDs (Primeiro Ato e Segundo Ato) e fizeram diversas apresentações pelas quebradas da cidade, aquele sonho de adolescência começava a virar realidade. Segundo Wesley Perez, chamado por todos de "produtor monstro", habilidoso em fazer gambiarras reaproveitando equipamentos usados: "Mano, de repente, eu tava andando na rua, daí passava um carro tocando nosso som, e eu nem conhecia quem tava no carro. Outra vez, passava em frente de uma casa, ouvia nosso som tocando lá dentro. Cara, aquilo pra nóis era tipo o sucesso, nossa música tá tocando na quebrada". Wesley comprava os CDs virgens na Galeria do Rock, em São Paulo, e no seu computador gravava as músicas na mídia: "Era um processo que durava horas, você saía, ia fazer um rolê, quando voltava ainda tava lá", lembra ele. Na época, por volta de 2006, a internet era ainda uma novidade, estava chegando na quebrada, a galera estava entendendo o processo. A maioria dos CDs era distribuída gratuitamente nos shows do grupo.

    Nessa caminha dos rolês de Rap, quem sempre colava junto era MC Regra, que já havia participado de outros grupos e também tinha seu projeto solo: "Eu colava com os caras, participava de músicas, daí os caras me chamaram: - Pô, cê já tá com nóis, vamos oficializar sua participação no grupo", diz MC Regra. Mas Wesley, que pensava muito a produção geral, afirmou que eles tinham de mudar o nome, que talvez o nome atual fosse muito pesado para o que eles propunham, esse também era o pensamento do restante do grupo. E refletindo acerca das músicas que faziam, das letras e do estilo, surgiu o nome "Autoestima": "Você fala que a pessoa tem que levantar, tem que trabalhar, tem que se amar, tem que ter amor próprio, o outro fala a mesma coisa, o outro fala de música pra cima, tudo a ver com Autoestima, e é o que a pessoa precisa", palavras de MC Regra ao relatar a discussão que gerou o nome. O Grupo Autoestima traz a ideia de que o RAP não apenas aborda problemas da quebrada, mas fala também de superação. Aliás, uma coisa não elimina a outra. O Grupo nunca perdeu sua raiz de protesto, mas focou muito na mensagem de resgate, de "acreditar que o sonho é possível", trazendo como referências, por exemplo, grupos como SNJ e até o disco Vida Loka, do Racionais MCs.


    O Grupo Autoestima, surgido em 2009 e que também contou com a participação de MC Rael, trouxe o que há de melhor em cada uma daqueles MCs: a rima, a melodia, a batida, a poesia, o freestyle, a diversidade de vozes e tons. Um rap que tinha violão, percussão, teclado e trazia influência do Reggae, da MPB e até do Rock, afinal, na quebrada onde crescemos, as tribos sempre se misturavam. Das gravações na Casa do Wesley passaram a fazer camisetas, bonés, transformaram Autoestima numa marca. Eles se apresentaram em rádios, festivais e faziam ensaios ao vivo nas ruas da quebrada. Surgiu a câmera, começaram a fazer clipes e já usavam a internet para divulgar seus trampos. Havia tanto composições individuais como coletivas, mas tudo era construído conjuntamente, um som potente fortalecido pela amizade que perdura até os dias atuais.

    (Wesley, Lyon, Mc Regra e Mano H durante gravação do filme "O RAP da Vila Rio")

    O tempo passou, por volta de 2014 o grupo acabou, porém a ideia se manteve, cada um seguiu seu caminho solo no rap, mas ainda hoje fazem parcerias. Lyon, que sempre teve uma raiz forte no reggae e na MPB, assumiu o nome Autoestima, virou "Lyon Autoestima". Os motivos para o término são muitos, mas o principal talvez seja a mudança de ciclos, de traçar novas rotas, outros caminhos na vida e na música. Os sons do Grupo Autoestima podem ser conferidos no Canal "Autoestima Guarulhos" e são a base para a construção do filme "O RAP da Vila Rio".




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